quantas vezes a gente precisa se contentar com menos do que a gente quer porque não tem outra opção?
eu penso em poetas, em proseadores, e no quanto dói escrever. como disse helen dia desses:
Escrevo em pelo menos duas ocasiões: quando estou muito feliz — e é o tipo de texto que me arrependo e acho horroroso — ; quando estou muito indignada ou triste — são meus textos favoritos, mas os mais difíceis de ler. Tanto que é grande a possibilidade de eu não me ler e abandonar o texto publicado por aí, para outros olhos que não os meus.
Isso já é horrível. Mas acontece que não escrever é pior ainda, e é por isso que estou tentando, com medo.
sem destino, um velho mundo (helen araújo)
me pergunto quantas dores um coração precisa sentir para precisar colocar tudo em palavras. às vezes a dor é aguda, imediata; às vezes é lânguida, morna, demorada, quase como se não estivesse ali. e é esta segunda a que mais me dói, porque me faz pensar quando é que vai ter fim o tormento de sentir aquela dor ali, ou pior — se eu vou ter que me acostumar e tratá-la como se sempre houvesse estado ali.
ao mesmo tempo, o coração em regozijo também escreve; não só escreve, como registra. eu acredito que as palavras servem tanto para que nos lembremos de que o que é difícil passa, quanto que o que é bom chega, e existe. a escrita é feita para salvar, seja ela corda que nos tira de um poço sombrio ou sustento quando a fraqueza parece maior do que a vontade de resistir.
eu penso em como me contentar com algo que não é o que eu quero, mas sobre o qual não tenhpo nenhum controle. porque, vejam bem, a sociedade é um contrato, e um contrato significa que o controle — qualquer pouco controle que temos sobre qualquer coisa nessa vida — é dividido entre pessoas; plural, mais de uma. nem sempre é possível entrar num consenso, e isso faz com que nossas vontades estejam sujeitas ao acaso da concordância, essa que nem sempre vem.
o sentido me foge porque eu sinto que falta algo; uma peça no meu coração, um buraco no meu peito que devia estar preenchido, mas se mantém aberto. heart skipped a beat, but when i caught it you were out of reach, como já diria a música. como me contentar com o desencontro do tempo, da vontade, da necessidade, do sentimento?
acho que a gente não se contenta. no máximo, algumas vezes, a gente aceita.
e o coração continua descompassado, esperando o momento de voltar pro lugar.