esses dias, a raquel soltou uma newsletter inesperada que eu li e me deixou pensando uma coisa muito doida: já parou pra pensar em quantas pessoas você sente que são suas amigas, mas talvez nem saibam que você exista?
falando assim parece muito mais dramático do que realmente é, mas não deixa de ser algo curioso. esse pensamento rondou minha mente pela primeira vez enquanto eu estava na AIGO, uma livraria muito querida no bairro bom retiro, em são paulo, prestigiando o monge han pelo lançamento do seu livro vozes amarelas. logo depois de dar um abraço nele e desejar boa sorte no bate-papo que iria acontecer em breve, me dei conta de como deve ser completamente maluco ter várias pessoas te abraçando/cumprimentando/elogiando, sendo que você não faz ideia de quem é a grande maioria. essa deve ser a realidade de um monte de pessoas que estouram a própria bolha de influência, mas o conceito me deixa meio assustada e maravilhada ao mesmo tempo — maravilhada, no caso, porque imagina só ter TODA essa validação??? o sonho de princesa da minha ansiedade. enfim, o monge foi um querido com todas as pessoas que falaram com ele, o bate-papo foi ótimo, e eu fiquei pensando em como é engraçado ser artista e deixar as coisas que você gosta e seus pensamentos tão expostos a ponto de fazer todo mundo sentir que te conhece e te considerar uma parte de tudo aquilo que faz bem. não sei se é esquisito, se é muito legal... às vezes é as duas coisas. jamais saberemos (será?).
depois disso, fui ler a newsletter (a gente tinha que arranjar uma palavra em português pra isso. o google tradutor me diz que "boletim" é uma boa tradução, e eu achei fofo, porque me lembra folhetim e me faz pensar em alguém escrevendo os pensamentos e distribuindo por aí na rua, num cenário meio novela de época que passava às seis) da raquel, e minha vontade foi responder como se fosse uma grande amiga, porque sempre foi assim que eu me senti lendo tudo o que ela escreve. eu sou muito ruim pra deixar comentários nas coisas (procrastinadora? talvez), então é mais comum do que eu gostaria acompanhar o trabalho de alguém por eras e essa pessoa nem saber que eu existo, de fato, porque não existe um mero comentário meu ali. esse tipo de relação parassocial tem potencial pra ser algo assustador e meio bizarro, mas gosto de pensar que, no meu caso, é só um encontro casual de almas por aí; se estivéssemos em uma época diferente, eu poderia escrever uma carta-resposta, postar no correio, e fazer uma grande amizade. nos dias de hoje, posso deixar um comentário ou redigir um e-mail enorme, mas sinto que não tem o mesmo impacto... e, claro, sou um bocado procrastinadora. fazer o quê.
a vida depois da mudança tem sido caótica. não no sentido todas-as-coisas-estão-acontecendo-ao-mesmo-tempo-e-rápido-demais, mas no sentido todas-as-coisas-estão-acontecendo-ao-mesmo-tempo-dentro-da-minha-cabeça. a vida sozinha é muito boa, mas eu me dei conta de que amo companhia, principalmente pra tomar café da manhã e da tarde. eu passo grandes períodos de tempo pensando no que deveria estar fazendo e no que deveria ter vontade de fazer, e pouco tempo de fato fazendo alguma coisa. estou tentando me livrar da inércia por agora, mas acho que a vida toda é uma tentativa de interromper a inércia, então vamos ver no que vai dar.
comi escargot pela primeira vez. não é completamente horrível, mas não é gostoso. na verdade, tem uma textura esquisita e quase nenhum gosto. achei que fosse ser mais borrachudinho, sabe? mas, quando você morde, passa um tempo e você pensa: bom, realmente, parece mesmo que eu mordi uma lesma. mesmo assim, esperava mais. minha amiga rafa me viciou em carbonara e me alimentou mais vezes do que precisava e menos do que eu gostaria; me afastei e me reaproximei de uma pessoa maravilhosa que conheci em são paulo, e fiquei feliz com o acaso por causa disso. apesar de a minha mente estar em um caos silencioso, devagar e rápido ao mesmo tempo, algumas coisas têm funcionado, enquanto outras sofreram — eu mal participei do 6 on 6, não sei se vocês notaram. tô postando isso aqui igual à amélie poulain disfarçada, esperando que isso não faça com que as pessoas achem que eu sou esnobe nem horrorosa. eu sou só deprimida e tenho uma disfunção executiva maior que eu.
sussurrando bem baixinho no telefone o post, como se fosse um telegrama |
fico pensando se tem alguém que queria ser meu amigo tanto quanto eu quero ser amiga de algumas pessoas. tô querendo aprender a cuidar da minha samambaia, tô enrolando pra pintar a parede da minha sala e preciso comprar uma mesa e um sofá, além de repetidores de sinal pra minha internet — é isso ou achar alguém que entenda o suficiente de roteadores pra configurar o meu de uma forma que dê certo. consegui comprar um móvel belíssimo pra minha cozinha no grupo de compra e venda do trabalho, saí com uma amiga que fiz pelo instagram e fiquei três horas na paulista assistindo ao show ao ar livre do kacá novais, que descobri ser um querido. conheci a cecília marins e contei a história do dia mais feliz da minha vida enquanto tomávamos café e batíamos um papo, e ela passou correndo por mim no aeroporto de congonhas enquanto eu tentava resolver um vôo perdido e ela ia pra bienal de quadrinhos de curitiba, lembrou quem eu era e me reconheceu assim, do nada. me senti querida. não são engraçadas as coisas que nos fazem sentir queridas pelas outras pessoas?
é isso. espero voltar logo, mas, apesar de querer sempre vir aqui, também quero escrever só quando for de coração, senão não tem tanta graça. hoje me bateu a vontade, e cá estou eu. quem sabe eu volte logo a escrever cartas e perca esse bloqueio que me assombra de uma vez por todas! às vezes, até o coração precisa de um empurrãozinho, então vou ver o que dá pra fazer.
(ah, e eu tenho que passar pra ler o blog de tanta gente. tanta gente. na verdade, toda a gente que eu leio. mas, caso algum de vocês vejam isso aqui: tô com saudades. não desiste de mim. e cê acredita que já é setembro???)