tenho me sentido sozinha esses últimos dias, mesmo estando rodeada de gente
por estar trabalhando com meu time durante a semana. como não tenho rede
social que me distraia e nem algoritmo que me engula enquanto eu passo por um
milhão de vídeos rápidos, pensei: vou escrever.
(é engraçado que eu explique como chego aqui, a cada vez? eu acho meio
engraçado. é como se eu chegasse meio atrasada a um compromisso e me sentisse
compelida a explicar o porquê de ter me atrasado, mesmo que
ninguém me pergunte)
uma das coisas que têm ocupado a minha cabeça é como eu tenho, por falta de
termo melhor, “esquecido como se escreve”. não sei se tem a ver com o fato de
eu não estar lendo tanto, ou não escrever mais no meu diário que uso pra
preencher uma-página-por-dia (a última vez que usei o coitado foi, sei lá, há
um ano? talvez mais), ou com a confusão mental que também atrapalha a
elaboração das minhas ideias em voz alta (às vezes até na escrita!), seja no
trabalho ou na vida em geral; só sei que meus textos me parecem quebrados, sem
pé nem cabeça, começando em algum lugar e terminando em lugar algum, perdidos,
como se eu não soubesse exatamente o caminho que queria tomar quando comecei a
escrever. sobre isso, penso duas coisas: ou eu realmente estou com
dificuldades seríssimas pra me comunicar, ou estou me tornando uma
doidinha que escreve em fluxo de pensamento — essa segunda possibilidade é
mais uma gracinha minha, porque eu sempre escrevi meio que num fluxo de
pensamento maluco, falando do que me vinha à cabeça... mas então por que me
parece esquisito o que eu escrevo agora, e não o que já escrevi antes?
bom, vai entender. só sei que tenho sentido falta de uma certa estrutura nos
meus textos, o que me fez perceber que também não tenho percebido muita
estrutura na minha vida. antes que pareça que eu sou só uma pessoa que reclama
muito, calma!, juro que é mais uma reflexão filosófica e/ou organização de
pensamentos do que uma autocomiseração em busca de pena. enfim, voltando: a
falta de estrutura. não posso dizer que é um sentimento exclusivamente
recente, mas a sua presença anda acendendo uma luz de alerta no
cantinho do meu cérebro, como quem diz: talvez você precise prestar atenção
nisso aqui. talvez, só talvez, esse negócio esteja afetando sua vida
mais do que deveria. me sinto sem estrutura pra pensar nas coisas do trabalho,
e me pego com pensamentos que ou são ridiculamente básicos, ou ridiculamente
filosóficos, como “mas qual é exatamente o começo dessa tarefa?”
e “será que eu devia voltar um pouco e descobrir como se faz esse processo do
zero...? será que isso é possível, ou será que eu sou burra?”. geralmente, isso tudo termina comigo pensando que sou incompetente e que
não é possível que eu não consiga executar duas, três tarefas paralelamente,
porque, aparentemente, todo mundo (no meu trabalho)
consegue.
só que eu não consigo, e isso me enfia numa crise existencial maluca. o pior
de tudo é que o motivador dessa crise é o trabalho, e eu detesto ter o rumo da
minha vida ditado pelo trabalho! quem diria, não é mesmo?, que as coisas vêm
de onde menos se espera. assim, cá estou eu, pensando se meu problema é que
odeio o sistema econômico, ou que odeio trabalhar, ou que sou incompetente, ou
que tenho sim um distúrbio de concentração que torna virtualmente impossível
pra mim conseguir executar funções que esperam que eu execute com uma mão
amarrada nas costas. e aí eu só me sinto muito burra, mesmo, porque não quero
trabalhar, não quero resolver, mas também não quero me sentir incompetente e
inútil.
queria dizer que é tudo culpa do capitalismo e deixar por isso mesmo, mas a
verdade é que isso não resolve o meu problema, então eu só continuo na espiral
de existencialismo, entrando, eventualmente, por uma portinha do niilismo, e
desaguando, novamente, em lugar nenhum.
voltando um pouquinho ao tema da falta de estrutura e saindo um pouco do
tema “trabalho”: sinto falta da terapia. tenho me sentido um bocado
maluca, cheia de vontade de ficar falando essas coisas que eu acabei de
escrever em voz alta e olhar pra cara da minha psicóloga esperando que ela me
diga o significado da vida e do universo e tudo o mais; mas minha última
psicóloga não casou muito bem comigo e toda vez que penso em procurar outra
pessoa, só me vem à mente todo o trabalho em explicar meus contextos pra
aquela pessoa, a construção da relação terapêutica/analítica, e... não,
obrigada. acho que o que mais me desanima são as tentativas frustradas que
precedem o encontro de uma profissional que saiba lidar com o meu jeito e
jogue junto comigo ao invés de me dar o controle desligado e fingir que eu
estou jogando junto; é cansativo, e eu já estou cansada. queria que fosse mais
simples (toda vez que eu penso “queria que fosse mais simples”, acabo
rebatendo que nada no universo é lógico, já que lógica é um conceito humano, e
minha vontade é dar um murro na cara da voz que vive na minha cabeça e me diz
essas coisas. que inferno!), mas não é. vou precisar respirar fundo e empregar
parte do meu tempo na famosa Busca Pela Psicóloga Perfeita; até lá, sigo
choramingando.
o ruim de ser uma pessoa que choraminga e rebate seus próprios choramingos é
que eu nunca tenho uma pausa, nunca posso choramingar em paz e vivo cansada. e
tudo isso é minha culpa! inacreditável.
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eu poderia falar mais umas duas ou três coisas sobre sentir falta de estrutura
na vida, mas a verdade é que nem eu aguento mais, então vamos pra uma lista,
pra variar.
coisas que eu tenho consumido e feito:
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reassisti the haunting of hill house com minha amiga
letícia. ela dormiu pela primeira metade do negócio inteira, mas depois que
acontecem certas coisas (!!!), ela acordou e ficou VIDRADA. coisas ótimas:
reassistir coisas que a gente gosta, e ver alguém assistir e gostar muito.
-
fui à feira do livro da rocha e à feira do livro unesp e comprei livros. eu
não sou muito de comprar livros, mas peguei quadrinhos, romances, livros
sobre tarô e ensaios/teorias (?). no momento, tô lendo
a vegetariana, de han kang, que me lembro de ter visto muita gente falando bem, e,
menina, senti TANTA ANSIEDADE no final da primeira parte que quase morri.
juro, eu fui lendo na van pro escritório e a história ficava intensa, aí eu
parava. aí fechava o livro. aí abria de novo. pra quem não lia há um tempão,
tá sendo uma experiência.
-
eu tô sempre adiando começar séries novas porque... sei lá por quê. apego às
séries que eu gosto? enfim, comecei a assistir uma série que lembro ter
visto um trailer há zilhões de anos:
ghosts. tudo bem que eu vi o trailer da versão original britânica e a que eu
estou assistindo é a versão americana mais recente, mas é muito
divertidinho!!!! séries de assistir quando você para de trabalhar e precisa
desfazer o nó do seu cérebro.
-
acabei de assistir
pousando no amor, depois de enrolar horrores pra assistir várias partes mais “tensas”
(lê-se: estava estressada e não queria me estressar com doramas), e fiquei
completamente apaixonada/destroçada.
como assim várias coisas!!!! pior que nem tenho com quem
comentar as coisas, porque assisti depois que todo mundo já tinha visto, mas
ai. doramas dão um quentinho no coração, de vez em quando.
-
trabalhando presencialmente, acabei indo comer num lugar que monta cumbucas
de salada, e fiquei pensando que tô com saudade de comer mais salada. a
coisa é que eu sou péssima pra comprar as folhas e montar a salada todo dia,
e acaba estragando tudo e eu choro porque detesto deixar comida estragar.
talvez eu comece a pedir salada nesse lugar???
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vale tudo, gente. eu tenho a teoria de que existe um buraco na mente de todo
brasileiro que pode ser preenchido com a novela de sua preferência; como na
minha mente tem um buracão, eu preencho com várias. é uma maravilha ter algo
pra assistir todo dia, e tá sendo divertido poder ver e comentar com minha
namorada — que, inclusive, começou a assistir a novela de 1988 e descobriu
que é o maior pastelão, o que tá quase me fazendo assistir também.
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ando me sentindo muito atraída de novo por duas coisas que eu gosto
bastante: cerâmica e tarô. tenho que estudar coisas pro trabalho, e acho que
minha cabeça tá tentando equilibrar a balança e me incentivar a estudar
coisas que eu acho divertidas. achei fofo. também entrei na
comunidade de ponto cruz no reddit, e fico pensando: e se...?. claramente preciso voltar a conviver com
amigas bordadeiras.
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coisas sobre o blog: eu dei uma revisada muito por cima nos marcadores, reajustei uns, apaguei outros, e acabei relendo várias postagens (eu tenho tentado escrever menos “posts” e mais “postagens”. português na veia, inglês na cadeia!!!!!!, mas só às vezes) antigas do blog que me deixaram felizinha. é bom dar uma olhada no que a gente já fez, pra relembrar do que é capaz.
também tenho recebido comentários que me deixam feliz horrores e com vontade de abraçar suas respectivas escritoras. eu amo a relação que a gente consegue construir aqui, que enquanto eu derramo a alma vocês pegam uns baldes e tentam me ajudar a não alagar a cozinha enquanto comentam o que sentem/pensam/vivem/querem. obrigada por compartilhar seus pensamentos comigo <3
com isso, eu me despeço de vocês — afinal, falei pra caramba, já são onze da noite e eu ainda quero ler mais um pouquinho.
um beijo na testa de vocês e até breve!