os últimos tempos têm sido uma loucura. muita coisa acontecendo, deixando de acontecer, muita música sendo ouvida (e, ao mesmo tempo, nem tanta música assim), muitas expectativas e, aqui e ali, meu coração gentilmente partido por mim mesma.
tem acontecido essa coisa engraçada em que eu começo a escrever com um raciocínio em mente e acabo entrando em uma frase longa demais, e em outra frase, que envereda em outro assunto, e assim eu acabo um parágrafo sem fazer a menor ideia de qual era o objetivo daquilo ali, me obrigando a reler o início pra tentar entender. já faz um tempo que eu so aceito ao invés de reler o início, porque isso me faz querer apagar a frase toda, e eu sei que são coisas que eu só precisava escrever. tenho escrito principalmente nos meus diários, um registro de sentimentos que são tão simples quanto parecem complexos — tristeza, angústia, arrependimento e uma pitada de aceitação.
ando debatendo comigo mesma (e também me debatendo, porque a sensação é a de que estou correndo contra as paredes de um quarto vazio) como é difícil aceitar minhas próprias decisões quando nada é certo nessa vida; em uma releitura de dumbing of age (coragem, porque a tirinha começa em 2010), me peguei pensando em como deve ser reconfortante acreditar que o destino já foi definido por algo maior do que tudo o que se conhece, que cada ação e cada sentimento é um passo na direção do futuro que sempre foi seu. pra alguém que sempre quer tomar as melhores decisões, é difícil aceitar que não existe "certo" e "errado" e que eu só tenho como saber as consequências quando escolho sentir e fazer o que sinto e faço. falei pra minha psicóloga hoje: ser maduro é um saco. não ter certeza das coisas é um saco. bancar suas próprias decisões é um saco — e às vezes, como ela mesma me disse, as decisões nem são tão nossas assim. o livre arbítrio fica em segundo plano quando a gente pensa em todos os padrões que já foram programados na nossa cabeça e nas situações que não nos deixam muita escolha. significa que vai ser mais fácil? é claro que não.
ao mesmo tempo, eu tive dias muito bons, nessas duas últimas semanas. vi gente que amo, me senti acolhida por pessoas que eu acho muito maneiras, precisei construir e destruir tudo o que eu entendia como expectativa e maturidade. pude abraçar, acarinhar, desabafar, encarar, beijar e aceitar que alguns desses eu não farei por algum tempo — o que também me fez chorar um bocado. pude ver o que é o amor de perto e de longe (ha! jogos de palavras, porque quem eu amo tá sempre longe). prefiro de perto, se for pra escolher. cheguei em são paulo com a promessa de frio e tive um dia de 30° de presente! vivi coisas que nunca tinha vivido antes, e outras que já vivi um milhão de vezes. tenho que me lembrar que nada é totalmente bom ou totalmente ruim: as coisas apenas são, e a gente faz delas o que dá pra fazer.
talvez eu pareça muito fatalista porque estou com uma crise de sinusite daquelas, morrendo de medo que seja coronavirus; talvez porque, masoquista que sou, acabei de ler o lado fatal, e além de afetada pela leitura estou pensando que queria ter conhecido e apreciado mais lya luft ainda em vida. mas ah, pros diabos com isso. me pego pensando em como tantas coisas na vida são pequenas mortes, e em algo que a menina que eu gosto me disse: ei, eu não morri!, e em como isso sempre me faz pensar na música firewood, da regina spektor, quando ela diz: "you're not dying / everyone knows you're going to live / so you might as well start trying". às vezes é difícil seguir essas palavras à risca. é difícil tentar, mas não tem como evitar, ao mesmo tempo. que loucura, né?
tenho sentido saudades de muita coisa, até me dar conta de que não preciso continuar sentindo saudades de tudo. algumas saudades são inevitáveis, e outras dependem só de mim, mas eu também não gosto muito da pressão que isso coloca sobre mim. ando num momento meio "vamos só viver e ver no que dá". dei uma matada no um ano sem fazer compras, sinto falta de escrever de forma doida sobre um monte de coisas e, quando eu penso nisso, só o que me vem à mente é que eu preciso viver um monte de coisas pra escrever sobre elas. pra me apaixonar de novo. pelas coisas. pela vida. pelo mundo.
então vamos, né? não dá pra viver só de saudade.
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