quinta-feira, 12 de maio de 2022

coração descompassado


quantas vezes a gente precisa se contentar com menos do que a gente quer porque não tem outra opção?

eu penso em poetas, em proseadores, e no quanto dói escrever. como disse helen dia desses:

Escrevo em pelo menos duas ocasiões: quando estou muito feliz — e é o tipo de texto que me arrependo e acho horroroso — ; quando estou muito indignada ou triste — são meus textos favoritos, mas os mais difíceis de ler. Tanto que é grande a possibilidade de eu não me ler e abandonar o texto publicado por aí, para outros olhos que não os meus.

Isso já é horrível. Mas acontece que não escrever é pior ainda, e é por isso que estou tentando, com medo.

sem destino, um velho mundo (helen araújo)


me pergunto quantas dores um coração precisa sentir para precisar colocar tudo em palavras. às vezes a dor é aguda, imediata; às vezes é lânguida, morna, demorada, quase como se não estivesse ali. e é esta segunda a que mais me dói, porque me faz pensar quando é que vai ter fim o tormento de sentir aquela dor ali, ou pior — se eu vou ter que me acostumar e tratá-la como se sempre houvesse estado ali.

ao mesmo tempo, o coração em regozijo também escreve; não só escreve, como registra. eu acredito que as palavras servem tanto para que nos lembremos de que o que é difícil passa, quanto que o que é bom chega, e existe. a escrita é feita para salvar, seja ela corda que nos tira de um poço sombrio ou sustento quando a fraqueza parece maior do que a vontade de resistir.

eu penso em como me contentar com algo que não é o que eu quero, mas sobre o qual não tenhpo nenhum controle. porque, vejam bem, a sociedade é um contrato, e um contrato significa que o controle — qualquer pouco controle que temos sobre qualquer coisa nessa vida — é dividido entre pessoas; plural, mais de uma. nem sempre é possível entrar num consenso, e isso faz com que nossas vontades estejam sujeitas ao acaso da concordância, essa que nem sempre vem.

o sentido me foge porque eu sinto que falta algo; uma peça no meu coração, um buraco no meu peito que devia estar preenchido, mas se mantém aberto. heart skipped a beat, but when i caught it you were out of reach, como já diria a música. como me contentar com o desencontro do tempo, da vontade, da necessidade, do sentimento?

acho que a gente não se contenta. no máximo, algumas vezes, a gente aceita.

e o coração continua descompassado, esperando o momento de voltar pro lugar.

8 comentários

  1. Por incrivel que pareça sou mais de escrever quando estou feli ou indignada, triste não sai nada, só quero ficar quieta e vendo filme hihi. Em relação a se contentar, isso faz muito sentido para mim tambem!

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    1. o bichinho da escrita sempre me morde quando eu tô triste, acredita? hahaha. acho que me ajuda a sair daquele estado inerte que a tristezaàs vezes traz.

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  2. Pelo que eu já percebi, acredito na segunda opção "vou ter que me acostumar e tratá-la (a dor) como se sempre houvesse estado ali.". Justamente porque a gente não tem controle, só estamos expostos aos diversos acontecimentos e manejando as consequências disso, ainda que tomemos as decisões de nossas vidas. Colecionando cicatrizes que viram gatilhos 🤡, dores crônicas...

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    1. ai, confesso que essa alternativa é a que me deixa ainda mais triste :') apesar de ser uma forma esperta de lidart com algo queme deixa triste, a perspectiva de aceitar algo que me afeta assim me deixa meio... revoltada??? não sei explicar, só traz aquele sentimento agridoce de que tem algo errado. mas uma coisa é verdade, a gente realmente tem quase nenhum controle sobre tanta coisa na vida... até sobre as coisas que a gente acha ter controle. minha psicóloga sempre diz que o livre arbítrio é uma grande falácia, porque os padrões mentais que a gente tem e as situações em que a vida nos põe muitas vezes não deixam margem pra escolhas reais. e eu só fico assim pensando nisso: :'''')

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  3. Eu sempre me espanto com o quanto de dor nosso coração consegue suportar.
    Que esse buraco no seu peito consiga ser preenchido com algo de bom Arantxa!

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    1. obrigada, camila <3 seguimos tentando colocar o máximo de coisa boa aí, e ao mesmo tempo tentando não sufocar os sentimentos difíceis pra que eles não voltem depois como traumas não-resolvidos ò_õ hahaha

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  4. quem é vivo sempre aparece (sinceramente não sei se tô viva ou mal matada, mas enfim...)

    oiiii, xis!

    faz tanto tempo que não apareço aqui, ou pela blogsfera no geral, que nem sei por onde começar...
    primeiro, você lembra de mim? kkkkk espero muito que sim
    segundo, é lindamente bizarro as coincidências que acontecem quando eu visito seu blog (essa não é a primeira, eu tenho plena certeza disso). justo no momento em que eu decido reviver meu, quase morto, blog, porque tô sentindo uma falta tremenda de escrever, me deparo com um texto seu com essa frase "a escrita é feita para salvar, seja ela corda que nos tira de um poço sombrio ou sustento quando a fraqueza parece maior do que a vontade de resistir."
    AAAAA PELAMOR DA DEUSA! isso é definitivamente um sinal de que eu preciso voltar a colocar a dor em palavras, porque, mulher do céu, acho que meu coração nunca esteve no compasso certo.

    ps: tenho uma carta sua pra responder e vou fazer isso. só me avise se tiver mudado de endereço.

    um beijo enorme! <3
    Le

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    1. eu sei que faz UM MÊS desde esse comentário, mas eu fico sempre tão feliz em te ler, mesmo que seja comentando em alguma postagem??

      CLARO QUE EU LEMBRO DE VOCÊ, LÊ!! inclusive receber esse seu comentário foi um acalento pro meu coração quando eu recebi, porque não têm sido semanas (meses) fáceis. o jeito de lidar com as coisas é escrever — no diário, no blog, no outro blog, na agenda, em mensagens, em e-mails, em cantinhos de papel, qualquer coisa que fosse escrevível. dito isso, apoio completamente sua voltsa à blogosfera pra lidar com as intempéries dessa vida, porque por mais que a gente sinta dor, ajuda saber que não somosas únicas, eu acho. ah, e eu não mudei de endereço! pode responder que eu vou adorar te contar as desventuras da vida na minha próxima resposta (kkkrying).

      beijocas, lê! <3

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