quinta-feira, 21 de julho de 2022

todo dia ela faz tudo sempre igual

...fica ansiosa às seis horas da manhã

ultimamente, por mais que eu queira ter coisas maneiras pra falar, tenho ficado maluca de ansiedade no dia-a-dia. os motivos da ansiedade variam: não sentir que tenho tempo ou organização o suficiente pra fazer tudo o que preciso fazer no trabalho, me sentir colocada contra a parede por alguém no trabalho, sentir que não tenho tido agência sobre as minhas próprias escolhas... por mais que eu esteja vindo de um histórico em que minhas atitudes em relação à ansiedade foram positivas, acho que cheguei num ponto em que simplesmente não sei o que fazer. a vontade é deitar no chão e esperar a vida passar.

eu tenho me sentido uma vitrola quebrada, reclamando sobre as mesmas coisas, como se eu estivesse naquele episódio de o laboratório de dexter em que ele só consegue dizer "omelette du fromage". eu sei que é um assunto surrado, mas é terrível não se sentir "no direito" — e digo isso com todas as aspas possíveis — de desabafar sobre estar se sentindo mal, já que frequentemente são os mesmos assuntos que me deixam assim. no fim, essa ausência do desabafo se torna uma falta de confiança na minha capacidade de fazer as coisas: será que eu sou mesmo o que esperam de mim? eu devia saber fazer isso aqui? será que estou agindo da melhor maneira comigo e com os outros?

faz um tempo desde que minha vida começou a passar por um monte de mudanças, e geralmente é aí que minha ansiedade apita mais alto — quando acontece algo que sai do que foi planejado, mesmo que eu não planeje tanto assim a minha vida. sempre que alguma situação me tira do que eu enxergo como familiar ou rotineiro; tudo o que é fora do que é confortável. ultimamente, tenho reparado, é preciso um pouco mais que isso: quando situações (no plural) assim se combinam eu me sinto presa numa rua sem saída, e é aí que a ansiedade me pega em toda a sua glória. esses dias, amanda me disse que uma das palavras que eu mais tenho usado é "exaustivo"; eu acabei percebendo que "cansaço" e suas derivadas também fazem parte desse pacote. esse cansaço vem do acúmulo, uma situação em cima da outra, algumas que dependem de ações minhas, outras que estão ali puramente pra me cutucar com um pedaço de pau enquanto eu não posso fazer nada sobre elas.

um dos meus questionamentos recentes tem sido o que motiva minhas decisões — eu sinto que não tenho decidido nada porque eu quero, e sim porque existe uma pressão externa de que minha decisão vai afetar alguém de forma negativa. quando eu penso em me mudar, por exemplo, ao invés de os prós e contras serem a respeito da minha capacidade de morar sozinha, eles são sobre como a minha saída iria afetar a dinâmica da minha família. e, como deu pra imaginar, são só contras. um combo de ansiedade e chantagem emocional, programados no código-fonte da minha mente.

nesses momentos de angústia, eu me pergunto se as decisões da vida adulta vêm mesmo banhadas em culpa, ou se é um caso aqui e outro ali. tenho me sentido exausta, sim, mas de me sentir culpada, chantageada, sozinha, colocada contra a parede. assombrada pelas decisões que eu tomo e pelas que eu não tomo. a gente quer tentar começar do zero, mas nunca dá pra começar exatamente do zero, né? sempre existe algo que veio antes, porque não dá pra apagar tudo o que levou a gente a ser quem a gente é. queria pegar mais leve comigo mesma e com as outras pessoas, mas sinto que finalmente passei a encarar uma parte de mim que eu não conheço tão bem assim, e que eu nem sei começar a definir, pelo menos não por enquanto.

fico desejando um abraço e um colo pra chorar, mas me resigno a encarar o espelho até reconhecer quem eu vejo nele.

torcendo pra que o consolo venha justamente dali.

3 comentários

  1. Eu também me sinto assim. Acordar com a ansiedade deitada no meu lado nem é mais novidade, eu agora só levanto e vou fazer um café pra gente tomar. Não é fácil, e cansa de verdade. Estou seguindo aos pouquinhos, vou fazendo o que dá, talvez um dia consiga me mexer mais e fazer escolhas importantes, por enquanto estou me dando um tempo . Bjão espero que fique bem.
    Obrigada pelo post que fez com que eu me sentisse menos sozinha

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    1. a ansiedade aqui é aquela visita que ultrapassa o período ideal de estadia e se torna uma grande inconveniência :^( a gente faz as coisas porque não tem como não fazer (quem é que vai pagar as contas??), mas a energia gasta em coisas pequenas parece o dobro. fico feliz por ter te ajudado a se sentir menos sozinha. isso é uma das poucas coisas que me consola nesses momentos. beijos! <3

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  2. Eu diria que a pior chantagem emocional é aquela que a gente faz COM A GENTE MESMO. É uma coisa que nos paralisa, nos deixa infinitamente culpados, é realmente um beco escuro e sem saída. Torcendo aqui para você encontrar um lugarzinho (dentro de você mesmo) mais gentil e calmo. <3

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