quinta-feira, 13 de maio de 2021

já foi mais fácil

já foi mais fácil pra mim montar um caminho de palavras e dizer o que estou sentindo. já foi mais fácil chorar e comover e tocar o coração que estava mais escondido, cheio de tijolos formando um muro em volta de si — já foi mais difícil, também, mas queria dizer que já foi mais fácil.

eu queria poder te emprestar os meus olhos para que você visse o mundo através deles: nada é perfeito, mas eu aprendi que tudo pode ser mais suportável. mais bonito. existe cor até na tragédia, nem que ela sirva para ensinar a sentir uma dor que você nunca sentiu antes. pelos meus olhos, talvez você visse o quão bonita é a parte do mundo que tem você; quantas cores você tem. você é aquela vontade de rir que a gente até tenta segurar, mas vem incontrolável pela garganta e explode numa risada que ninguém consegue evitar. você é o abraço que acalenta, é o sentimento de casa. você é você demais.

eu ainda acho que um dia vamos olhar pra trás e pensar: como é que pode? como é que pode duas pessoas se encontrarem e se desencontrarem, mas continuarem se encontrando? eu ainda acho que um dia você vai conseguir se ver um pouco através das minhas lentes, e talvez eu me veja através das suas. eu ainda acho que tudo vai melhorar, que nada é pra sempre, nem o fim, nem o começo. nem o bom nem o ruim. nem o ruim!

já foi mais fácil passar por mudanças, mas já foi mais difícil sofrer; ou seria mais fácil? bom, de todo jeito, eu já sofri mais. não é que eu não esteja sofrendo, é só que eu prefiro esperar pelo que vem depois, porque eu tenho existido em função da esperança. você não é a primeira pessoa que eu conheço que não gosta de sentir esperança, e nem é a última, mas eu ainda acho que isso, também, vai mudar. tudo muda, nada é pra sempre; eu vivo com esse conhecimento guardado no fundo da mente, marcando tudo o que eu penso. já foi mais difícil porque eu também já vivi em tempos de seca, quando a esperança era mais lembrança que realidade, um gosto que eu imaginava mais do que lembrava. i imagine death so much it feels more like a memory, tipo isso. tipo isso.

hoje eu guardo a esperança perto do peito e a abraço contra a minha pele nua pra que ela absorva mais calor; esperança é algo que se cultiva e se cria e se mantém. “não existe almoço grátis”, as pessoas dizem. eu discordo: até existe almoço grátis, mas a gente tem que viver a vida sabendo que um dia, se ele não existir, a gente vai ter como comer. é assim com a esperança: é preciso tê-la sempre por perto, porque nunca se sabe quando o mundo vai tirar o chão de baixo dos nossos pés.

espero que um dia você leia isso e sorria. acho que hoje não — talvez daqui a mais tempo. talvez hoje seja mais como uma faca, palavras que dizem o que você não quer ouvir; quando a gente não se lembra de como é ter esperança, o gosto dela é amargo. acho que hoje você vai se encolher na cama e dormir e talvez em algum desses dias haja o tal do almoço grátis e seus olhos vão brilhar e tudo vai fazer um pouco mais de sentido.

até lá, eu sigo constatando que já foi mais fácil viver essa vida que a gente vive.

2 comentários

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